As turbulências geradas à economia mundial acabaram por atingir também o Brasil, na medida em que o coronavírus chegou e se espalhou pelo país, comprometendo não só o sistema de saúde pública como o econômico. Santa Catarina não ficou imune e foi um dos primeiros estados a decretar a quarentena, conseguindo desacelerar o avanço do vírus. No entanto, as restrições às atividades impactaram em cheio o setor produtivo, que precisou buscar alternativas em um cenário até então desconhecido.
Para sobreviver ao momento difícil, as empresas precisaram equilibrar o caixa, usando as reservas financeiras de que dispunham e cortando despesas. “Desde o início, a Acic teve a preocupação de incentivar a classe empresarial a não demitir, apesar de todas as dificuldades apresentadas. Manter os empregos é uma forma de reduzir os impactos sociais. Além disso, sabemos o quanto será importante ter essa mão de obra treinada, qualificada, para acelerar a retomada da economia”, afirma o presidente da Associação Empresarial de Criciúma (Acic), Moacir Dagostin.
Conforme Dagostin, a Acic se preocupou em estar ao lado dos empresários, ouvindo as demandas e lutando para que fossem atendidas, contribuindo assim para superar os obstáculos que se apresentaram nos últimos meses. Ele conta que a entidade realizou uma pesquisa informal com as empresas, através dos sindicatos patronais, para apurar como estavam lidando com a situação.
Esse levantamento apontou que a maioria delas evitou promover demissões, lançando mão para isso de concessão de férias, trabalho remoto, redução de jornada e suspensão temporária de contratos, entre outras alternativas permitidas pela legislação trabalhista.
Desempenho mais positivo da indústria
Passados mais de dois meses do anúncio das restrições, os empresários começam a vislumbrar desempenhos mais positivos do setor industrial. Em reunião da diretoria da Acic, na noite dessa segunda-feira, 1º, os diretores avaliaram as reações e perspectivas do mercado.
“Estamos prevendo uma queda global em torno de 30% para o setor de transporte de implementos rodoviários. Já o setor de caminhões, caiu um pouco mais, cerca de 42%. No mês passado, tivemos uma boa surpresa, conseguimos manter as vendas da empresa. As margens de lucro estão caindo, sensivelmente, o que proporciona a compra. Já os custos, devido ao câmbio, estão subindo”, destaca o CEO da Librelato, José Carlos Sprícigo.
“Nossos clientes estão exportando, com uma demanda de carne muito grande, especialmente da Ásia e da China, e essa demanda deve continuar. Além disso, a indústria de carne brasileira abriu muito mercado a nível mundial. Os estoques de pedidos não estão entrando na mesma velocidade, mas estamos com programação para frente”, coloca o diretor geral da Plasson do Brasil, Franke Hobold.
O diretor da Acic, Zalmir Casagrande, ressalta que alguns setores estão com números mais expressivos do que antes da pandemia, porém outros estão sendo muito afetados. “Alguns ambientes estão vendendo mais do que antes, como o setor de alimentos, outros sofrendo muito, como o da confecção. Percebemos que há uma esperança muito grande e que todos estão focados na recuperação da economia. Precisamos ser agentes transformadores disso, valorizando e comprando no comércio local”, pontua.
Para o empresário Edmilson Zanatta, a motivação a cada conquista precisa ser comemorada. “Estamos trabalhando para manter as atividades, os empregos e vibrando a cada conquista, mesmo diante de todas as dificuldades, que são reais e muito fortes”, observa.
Em meio à crise, novas oportunidades
A diretora Silvane da Rosa Cardoso Citadin, da área de transportes e logística, conta que a empresa vem buscando mercados e oportunidades em meio à crise e que novas filiais da empresa serão abertas. “Tivemos números melhores em maio, que fechou com 20% de queda, contra 25% registrado nos meses de março e abril. Também estamos abrindo duas novas filiais, buscando oportunidades diante da crise”, revela.
Também do setor de transporte, o empresário Nivaldo Volpato, acredita em uma recuperação maior do segmento a partir de agosto. “Com a demanda até então reprimida, especialmente impactada pela paralisação das atividades em grandes centros, apostamos em melhores desempenhos para os próximos meses”, acrescenta.
Crescente recuperação
O presidente da Acic, Moacir Dagostin, reforça a importância das iniciativas e da força do setor produtivo para que a crise não seja ainda pior. “Estamos percebendo uma crescente no processo de recuperação da economia. Claro, temos setores que nos preocupam muito, como o vestuário, que precisará de muitos incentivos para a retomada. Também estamos otimistas com o setor cerâmico, que tem retomado as produções, setor este que gera muitos empregos na região. Ficamos também um pouco mais aliviados quando os resultados do Caged foram publicados na semana passada. Os números são negativos, porém a expectativa era de resultados ainda piores. Tudo isso é resultado de medidas que as empresas tomaram e estão tomando para manter os empregos e suas atividades”, conclui.
Saldo de empregos na região
Com as restrições ainda em vigor, a região carbonífera teve o pior desempenho em abril, quando houve a perda de 3.520 postos de trabalho, resultando em saldo negativo de 818 no acumulado do ano, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Saldo positivo
Seis municípios da Região Carbonífera mantêm saldo positivo no acumulado do ano, na comparação entre admissões e desligamentos: Forquilhinha (105), Urussanga (99), Nova Veneza (71), Lauro Müller (44), Morro da Fumaça (35) e Balneário Rincão (29). Perderam postos de trabalho as cidades de Treviso (-17), Cocal do Sul (-83), Siderópolis (-89), Orleans (-165), Içara (-200) e Criciúma (-647).
A região terminou abril com um estoque de 129.708 empregos com carteira assinada, uma redução inferior a 0,63% em relação ao volume que mantinha no início do ano (130.526).