Na última quinta-feira (8), a monarca do Reino Unido, Elizabeth II, faleceu. Com sua morte, uma série de protocolos e tradições se seguem, inclusive algumas atitudes inusitadas, como avisar as abelhas da passagem da rainha. Uma das curiosidades é o caixão: preparado há 30 anos, ele é coberto de chumbo, algo tradicional à família real — a Princesa Diana e o Príncipe Philip também foram sepultados assim.
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O que acontece com o corpo após a morte?
A tradição dos sarcófagos super protegidos tem centenas de anos. O motivo? Preservação dos cadáveres. À época em que a prática começou, métodos de preservação como o que utiliza formaldeído (formol) ainda não eram conhecidos — a utilidade preservativa da substância, por exemplo, só foi descoberta em 1869. Corpos de reis e de camponeses, como sabemos, se decompõem sem distinção.
Preservação dos corpos da realeza
Um dos exemplos mais gráficos da, digamos, necessidade real de preservação dos corpos é o de Guilherme, o Conquistador, Duque da Normandia que invadiu a Inglaterra e se tornou o primeiro rei normando do país, em 1066. No final de sua vida, o monarca se permitiu render aos prazeres da gula, e tinha um peso considerável. Um dia, em combate, seu cavalo empinou, e a distribuição ruim do peso fez com que a sela perfurasse seu intestino.
Com a medicina precária da época, os médicos não puderam realizar a operação que salvaria a vida do rei também devido à sua obesidade. Guilherme I não tinha relações muito boas com nenhum súdito, até mesmo seu filho, contra quem, aliás, estava travando a guerra. Ninguém se dispôs a realizar o seu funeral — e seu corpo ficou esperando, já em decomposição, sobre uma mesa de pedra.
Um cavaleiro, de passagem por Rouen, onde o corpo do monarca estava, resolveu levar a tarefa do funeral a cabo. O transporte teria de ser feito até Caen, para o enterro, que ficava a 112 quilômetros e cuja viagem era feita de barco, pelo rio Sena. O corpo, a essa altura, pouco fazia além de acumular gases da decomposição. Os intestinos já se espalhavam pelas cavidades corporais.
Guilherme, o Conquistador, no centro da imagem, da Tapeçaria de Bayeux: no final da vida, o monarca estava obeso, e morreu em 1087, Guilherme, o Conquistador, no centro da imagem, da Tapeçaria de Bayeux: no final da vida, o monarca estava obeso, e morreu em 1087.
A chegada à cidade foi acompanhada por uma série de infortúnios, que incluíram um incêndio local. O fogo aumentou o calor, que também ajudou os gases de Guilherme a se expandirem. Quando o corpo do antigo rei estava pronto para ser enterrado, já se havia passado algumas semanas de sua morte, e seu tamanho não foi levado em conta: ele não cabia na cova.
Os coveiros, apressados, tentaram apertar o corpo para fazê-lo entrar em sua sepultura. Já em sua expansão máxima, o corpo não aguentou e acabou explodindo, espirrando vísceras sobre todos os presentes e espalhando um odor pútrido insuportável pelo local, segundo o relato do monge beneditino Orderico Vital.
E os caixões de chumbo?
Séculos depois, caixões de chumbo evitam eventos como esse ao desacelerar a decomposição do corpo: o material mantém a umidade longe do interior, já que o material não decai (ou seja, não se decompõe), permanecendo hermético. Gases e cheiros também se mantém presos no caixão, não escapando para o exterior. Quando o corpo fica acima do solo e pode ser transportado no futuro, essa característica é de grande utilidade.
Caixões desse tipo foram caros demais para plebeus europeus por séculos, o que também caracteriza um “luxo” aproveitado pela realeza britânica. Atualmente, todo corpo sepultado acima do solo no Reino Unido requer, por lei, um caixão de chumbo.