Um pai de família, com baixa visão e sem ensino básico. Foi assim que Elias resumiu sua trajetória de vida até o fim de 2017, quando sua visão veio a piorar ainda mais, chegando a perda total. Desistir? Pelo contrário, o calouro repensou suas possibilidades e decidiu ir atrás de seus sonhos, foi o primeiro matriculado no Escolha Unesc e escolheu o curso de Direito para reescrever sua história.
Ele vem de Balneário Gaivota, pega trânsito, ônibus e ainda caminha. Muitos estudantes têm uma rotina cansativa para chegar à Universidade. Mas já imaginou fazer este mesmo percurso sem enxergar? Esta vai ser sua rotina a partir do próximo semestre.
Quando recebeu a notícia de que ficaria cego, Elias se recolheu e buscou pensar sobre sua situação. Em meio aos pensamentos negativos, a vontade de seguir falou mais alto. “Durante um bom tempo eu refleti sobre o que fazer com minha vida. Me perguntei se ia simplesmente ficar vegetando em casa, acordando e não fazendo nada o dia todo, ou ia buscar meus objetivos. Optei pela segunda opção”, contou Elias.
De surpresa à inspiração
Em um momento de lazer, durante sua reorganização de vida, o novo acadêmico encontrou a inspiração onde menos esperava. Ele ouvia a um vídeo no YouTube, que contava a história de uma professora cega, ela desejava comprar um automóvel. Em meio as conversas da trama, a frase “O advogado que também é cego” chamou sua atenção. “Eu pensei, esperai aí! Advogado cego? Repeti a passagem três vezes. Ali, naquele looping, senti que se ele conseguiu e eu também poderia realizar meu sonho”, afirmou o calouro.
A partir daquele momento era hora de procurar informação e se formar no Ensino Médio. Após meses de dedicação aos estudos, ele enfim realizou o Encceja (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos) e superou mais este obstáculo. Com seu diploma em mãos, Elias buscou na Unesc suas novas oportunidades e pode ingressar na graduação.
Agora calouro
A ansiedade no início da vida acadêmica é comum a qualquer estudante universitário. Para Elias, em meio aos prazos e burocracias de documentação, não foi diferente, ele literalmente incomodou os atendentes da Centac (Central de atendimento aos estudantes). “Eu ligava três ou quatro vezes por dia para a Unesc, até que em uma madrugada de terça-feira, já era duas da manhã, o edital finalmente saiu. Comecei a ficar nervoso, peguei o celular e comecei a ligar para várias pessoas sem nenhum motivo, levei até bronca da minha esposa. No fim não consegui dormir, queria garantir que não perderia o horário. Quando o relógio marcou seis horas voltei a ligar e acordei um amigo para me levar na Centac”, relatou o estudante.
Elias foi o primeiro da fila, chegou na Universidade antes mesmo do início dos atendimentos. Após o fim da inscrição, veio o alivio, ele enfim era calouro de Direito da Unesc.
A vida acadêmica e o futuro
O calouro sabe que quando o período de estudos começar vai encontrar dificuldades, entre elas a locomoção, mas Elias também sabe que vai encontrar nos futuros amigos a solução para superar mais um degrau. “As pessoas boas sempre ajudam, e aqui vou encontrar novos amigos, daqueles que levamos para toda vida. No resto, damos um jeito”, frisou ele.
Apesar de ainda não ter começado os estudos, os planos do futuro advogado já estão traçados para quando concluir a graduação. Elias espera chegar à Analista Processual e deixa um recado para quem está encontrando dificuldades de realizar um sonho. “O luto pode vir de muitas formas e tem um período a ser superado. O importante é não deixa-lo te consumir, use este momento como força para continuar. Você ainda pode, sua vida ainda não acabou e, pelo contrário, ela está apenas começando. As dificuldades estão aí para serem superadas”, concluiu o calouro.
Elias tem 29 anos e começa seus estudos no dia 30 de julho.